O SHABAT, COMO SE COMPRIR? (5778)- Estudo de 13 de julho de 2018 – 01 de Av de 5778

O Quarto Mandamento – Shamor et Yom HaShabat – Santificar o Shabat

I. Como guardar o Shabat? Shamor ve Zachor – Somos ordenados a lembrar do Shabat; mas lembrar significa muito mais que meramente não esquecer de guardar o Shabat. Significa também lembrar do significado do Shabat, tanto como uma celebração da Criação como para comemorar a nossa libertação da escravidão no Egito. Em Shemot 20:11, depois que o quarto Mandamento foi instituído pela primeira vez, D’us explica: “Durante seis dias o Eterno criou os céus e a terra, e mar e tudo que existe neles, e no sétimo dia, descansou: portanto, o Eterno abençoou o dia do Shabat e o santificou.”

Ao descansar no sétimo dia e santificá-lo, lembramos e reconhecemos que D’us é o Criador do céu e da terra e de todos os seres vivos. Nós também imitamos o exemplo Divino, abstendo-nos de trabalho no sétimo dia, como D’us fez. Se a obra de D’us pode ser deixada de lado para um dia de descanso, como podemos acreditar que nosso próprio trabalho é importante demais para ser deixado temporariamente de lado?

Em Devarim 5:15, enquanto Moshê reitera os Dez Mandamentos, ele assinala a segunda coisa que devemos lembrar no Shabat: “Lembra-te que foste um escravo na terra do Egito, e o Eterno, teu D’us, o tirou de lá com mão poderosa e um braço estendido; portanto o Senhor teu D’us te ordenou guardar o dia do Shabat.”

O que tem o Êxodo a ver com o descanso no sétimo dia? Trata-se de liberdade. Como eu disse antes, nos tempos antigos o lazer estava destinado a determinadas classes; os escravos não tinham dias de descanso. Assim, ao descansar no Shabat, somos lembrados de que somos livres. Porém num sentido mais geral, o Shabat nos liberta de nossas preocupações dos dias da semana, nossos prazos e horários e de nossos compromissos. Durante a semana, somos escravos de nossos empregos, de nossos credores, e da necessidade de prover por nós mesmos; no Shabat, somos libertados destas preocupações, assim como nossos ancestrais foram libertados da escravidão no Egito.

Lembramos destes dois significados do Shabat quando recitamos o kidush (a prece sobre o vinho, santificando o Shabat ou um Dia Festivo). O kidush de sexta-feira à noite refere-se ao Shabat tanto como zikkaron l’ma’aseh bereshit (um memorial do trabalho no princípio) e zeicher litz’at mitzrayim (uma lembrança do êxodo do Egito).

Shamor: observer – Obviamente, nenhuma discussão sobre o Shabat estaria completa sem discorrer sobre o trabalho que é proibido no Shabat. Este é um outro aspecto do Shabat que é mal entendido por pessoas que não o guardam.

A maioria das pessoas vê a palavra “trabalho” e pensam sobre ela no sentido do literal: trabalho e esforço físico, ou emprego. Sob esta definição, acender uma luz seria permitido, porque não exige esforço, mas um rabino não poderia conduzir os serviços do Shabat, porque este é seu emprego. A Lei Judaica proíbe o primeiro e permite o segundo. Muitos, portanto, concluem que a Lei Judaica não faz o menor sentido.

O problema não está na Lei Judaica, mas na definição que é usada. A Torá não proíbe o “trabalho” no sentido empregado no século 21. A Torá proíbe melachá” (Mem-Lamed-Alef-Hê), que geralmente é traduzido como “trabalho”, mas não significa exatamente o que as pessoas imaginam. Antes que você possa começar a entender as restrições do Shabat, é preciso que entenda a palavra “melachá”. Este termo refere-se ao trabalho criativo, ou que exerce controle ou domínio sobre nosso ambiente. A palavra pode estar relacionada com “melech” (rei; Mem-Lamed-Kaf). O exemplo perfeito de melachá é o trabalho de criar o universo, que D’us cessou no sétimo dia. Veja que a obra de D’us não exigiu um grande esforço físico: Ele falou, e foi feito. A palavra melachá raramente é usada nas Escrituras fora do contexto do Shabat e restrições dos dias festivos. O único outro uso repetido da palavra está na discussão da construção do santuário e seus recipientes no deserto (Shemot cap. 31, 35-38). Notavelmente, as restrições do Shabat são reiteradas durante esta discussão (Shemot 31:13), assim podemos deduzir que a obra de criar o santuário teve de ser parada para o descanso e santificação do Shabat. A partir daí, os rabinos concluíram que o trabalho proibido no Shabat é o mesmo que o trabalho para criar o Santuário. Eles encontraram 39 categorias de ações proibidas, e todas são tipos de trabalhos que foi preciso fazer na construção do Mishcán, Santuário.

1.Semear 2.Arar 3.Colher 4.Agrupar peixes 5.Debulhar 6.Joeirar – dispersar 7.Escolher 8.Moer 9.Peneirar 10. Fazer massa 11.Assar 12.Tosquiar 13.Lavar a lã 14.Desembaraçar a lã 15.Tingir a lã 16.Fiar 17.Esticar e tecer 18.Dar dois nós 19. Tecer dois fios 20. Separar duas linhas 21. Atar 22. Desatar 23. Costurar 24. Rasgar 25. Caçar
26. Abater 27. Pelar o couro 28. Curtir o couro 29. Alisar o couro 30. Demarcar o couro 31. Cortar 32. Escrever ou esculpir letras 33. Apagar 34. Construir 35. Destruir ou demolir 36. Acender fogo 37. Apagar ou diminuir o fogo 38. Bater com martelo (terminar a manufatura de qualquer objeto) 39. Levar um objeto de um domínio privado para o público, ou transportar um objeto em domínio público. Mishná Shabat, 7:2

Todas estas tarefas estão proibidas, bem como qualquer trabalho que opere pelo mesmo princípio ou tenha o mesmo objetivo. Além disso, os rabinos proibiram entrar em contato com qualquer implemento que poderia ser usado para um dos propósitos acima (por exemplo, não se pode tocar um martelo ou um lápis), viajar, comprar e vender, e outras tarefas dos dias da semana que poderiam interferir com o espírito do Shabat.

O uso da eletricidade é proibido porque serve à mesma função que o fogo ou algumas das outras proibições, ou porque é tecnicamente considerada como “fogo”.

A questão do uso do automóvel no Shabat, tão freqüentemente discutida por judeus não observantes, não é um tema controverso para os judeus religiosos. O automóvel funciona com base num motor de combustão interna, que opera queimando gasolina e óleo, uma clara violação da proibição da Torá contra acender um fogo. Além disso, o movimento do carro constituiria transportar um objeto no domínio público, outra violação da proibição da Torá, e com toda a certeza o carro seria usado para percorrer uma distância maior que a permitida pelas proibições rabínicas. Por todos estes motivos, e muitos mais, o uso de um carro no Shabat não é permitido.

Como ocorre com quase todos os Mandamentos, todas as restrições do Shabat podem ser violadas se necessário para salvar uma vida.

Um Shabat típico – Toda a sexta-feira, judeus shomer Shabat, (que cuidam do Shabat), deixam o escritório para começarem os preparativos. O estado de espírito é semelhante a quando se prepara para a chegada de um convidado querido e especial. A casa é limpa, a família toma banho e se veste, as melhores louças são colocadas à mesa, uma refeição festiva é preparada. Além disso, tudo que não pode ser feito durante o Shabat deve ser preparado com antecedência: luzes e aparelhos são ligados (ou timers colocados neles, se a família costuma fazer dessa forma), a lâmpada da geladeira deve ser removida, para que não acenda quando a porta for aberta, e os preparativos para as refeições do Shabat devem ser feitas.

O Shabat, como todos os outros dias judaicos, começa ao anoitecer, porque na história da Criação em Bereshit cap.1, está escrito: “E era noite, e era manhã, dia um.” A partir daí, deduzimos que um dia começa com o anoitecer, ou seja, o pôr-do-sol. As velas do Shabat são acesas e uma bênção é recitada no máximo até dezoito minutos depois do pôr-do-sol. Este ritual, desempenhado pela mulher da casa, assinala oficialmente o início do Shabat. Duas velas são acesas, representando os dois mandamentos: zachor e shamor. Há um costume de acender uma vela adicional a cada filho que nasce, além das duas originais, e de meninas, a partir de três anos, acender sua própria vela, auxiliada por sua mãe, que deverá em seguida acender a sua. A família então poderá participar de um Cabalat Shabat em uma sinagoga próxima a sua casa.

Ao retornar da sinagoga, a família se mantém unida em torno da mesa. O homem da casa recita o Kidush, uma prece sobre o vinho, santificando o Shabat. A prece usual para comer pão é recitada sobre duas chalot. Então a família saboreia o jantar. Embora não haja exigências específicas ou costumes sobre o que comer, geralmente as refeições são constituídas de cozido ou alimentos de cozimento lento, por causa da proibição de cozinhar durante o Shabat. Depois do jantar, o bircat hamazon (Graças Após as Refeições) é recitado. Embora isso seja feito todos os dias, no Shabat é feito de maneira mais relaxada. Quando tudo isso já foi completado, geralmente são 9 horas, ou mais. A família tem uma hora ou duas para conversar ou estudar Torá, e depois vai dormir.

Na manhã seguinte, os serviços do Shabat começam por volta das 9 horas e continuam até cerca de meio-dia. Após os serviços, a família diz o Kidush novamente e tem outra refeição festiva. Uma refeição típica é o cholent, um cozido preparado lentamente. Quando birkat hamazon é recitada, são cerca de duas horas da tarde. A família estuda Torá por algum tempo, conversa, faz uma caminhada. É comum uma breve soneca no meio da tarde. É tradicional fazer uma terceira refeição antes do final do Shabat. Esta geralmente é uma refeição leve no final da tarde.

O Shabat termina ao cair da noite, quando três estrelas estão visíveis, cerca de 40 minutos após o pôr-do-sol. Na conclusão do Shabat, a família desempenha um ritual de encerramento chamado Havdalá (separação, conclusão). São recitadas bênçãos sobre o vinho, especiarias (cravo) e velas. Então é recitada uma bênção a respeito da divisão entre o sagrado e o secular, entre o Shabat e os dias comuns da semana, etc.

O Shabat é portanto um dia repleto, único e extremamente relaxante. Você não sente falta do celular, de dirigir seu carro ou fazer compras. Para isto você tem seis dias inteirinhos da semana para se programar. Tente! Vale a pena! [1]

II. SHABAT (Regras Gerais), Movimento Conservativo – O Shabat é um dia de descanso para cada indivíduo e para toda a comunidade, e de renovação física e espiritual. Procura-se ter a melhor comida e vestimentas no Shabat.

O Shabat se inicia no final da tarde de sexta-feira, com o acendimento das velas e um Kidush, à noite, em casa ou nas sinagogas.

No Shabat, evita-se diversos tipos de atividades, chamadas de “melachot” normalmente referenciadas como “trabalho”, tais como, carregar objetos, acender fogo, escrever e cozinhar. Ver guezerá em Mitzvot de Rabanan. Todas as ações que são evitadas e as atividades recomendadas fazem do Shabat um dia muito especial, diferenciando dos outros dias da semana.

Vejamos algumas das leis do Shabat (Klein pág. 82-83):

1. Acender as luzes (velas ou lamparinas) e recitar o Kidush na noite de sexta-feira.

Acende-se as luzes ao cair da tarde, recitando-se a berachá “Baruch atah adonai eloheinu melech haolam asher kidishanu be mitzvotav vê-tzivanu lê hadlik ner shel shabat”.

Acendem-se 2 luzes, normalmente por pessoas do sexo feminino.

Existem calendários para acendimento das luzes disponíveis em folders e na Internet, de acordo com cada região do planeta, e que é realizado normalmente 18 minutos antes do por do sol. Este acendimento pode ser feito , também, mais cedo, cerca de 1 hora antes.

Esta velas não podem ser acesas após o por do sol. Independentemente de quantas pessoas se compõe um lar judaico, mesmo sendo um único homem ou mulher, o acendimento das velas e o kidush devem ser realizados em cada Shabat.

2. Dirigindo para a sinagoga no Shabat – Geralmente, dirigir um veículo não é permitido num Shabat. Mas considerando a dispersão geográfica de cada comunidade, o Comitê de Leis do Movimento Conservative fez, em 1950, uma exceção a esta proibição de se dirigir veículos no Shabat, permitindo, exclusivamente, dirigir de casa para sinagoga e vice-versa. Não estão incluídas viagens com o cunho puramente social e não religioso, como, por ex., comparecimento a recepções de festas, mesmo religiosas, como Bar-mitzvot, ofrifun, etc. Alguns movimentos “conservatives”, como o Masorti de Israel, não seguem esta licença de autorização. Em certas situações de emergência, é permitido dirigir no Shabat, como ida a um hospital por emergência médica.

3. Não usar dinheiro ou cartão de crédito no Shabat

4. Frequentar aulas não religiosas

Não deve ser encorajado. Mas se for necessário comparecer, não tome notas.

5. As 39 categorias de atividades proibidas (“trabalho”)

O Talmud, numa mishná específica identifica 39 categorias de “trabalho” proibidos, tais como, produzir fogo, escrever, cozinhar e carregar objetos. Estas 39 categorias são derivadas do trabalho que eram necessários para construir o Miskan, Tabernáculo construído na peregrinação pelo deserto, e que foi o predecessor do Beit Hamikdash (Templo Sagrado de Jerusalém).

6. Uso de eltricidade – Pelo olhar da maioria do “Comite da Lei” (Law Comittee”) do Movimento Conservativo, e mesmo de alguns ortodoxos, eletricidade não é fogo. Assim, o uso de eletricidade no Shabat não é probido para as atividades permitidas, como acender a luz para ler, e não permitido para as atividades proibidas, como cozinhar. Por este ponto de vista, então, usar o telefone é aceitável (se feita sem uso de dinheiro), ligar o rádio, CD player ou TV é aceitável, acender as luzes é permitido, aquecer uma comida sólida já preparada (isto é, já cozida) num forno de microondas , é aceitável, desde que não esteja sendo cozida naquele momento. Mas cozinhar um frango num forno elétrico ou usar um cortador de grama elétrico não são permitidos.

7. Carregar objetos – No Shabat não é permitido carregar objetos, incluindo mochilas, bolsas, e objetos nos bolsos das calças e camisas. Mas casacos e ornamentos podem ser usados.

8. Muktzeh e viagem – Objetos de trabalho ou comércio, como fósforos, caneta, dinheiro, são considerados muktzeh (colocados de lado), não devem ser usados ou mesmo tocados no Shabat, a menos que apareça um uso legítimo e consistente com o Shabat. As viagens são, também, limitadas no Shabat. Basicamente, cada um deve procurar ficar dentro da sua área metropolitana, não mais do que um quilometro da sua residência.

9. Atividades Recreativas – Muitas atividades físicas são permitidas no Shabat. Por exemplo, embora não universalmente aceito, muitos consideram permissível se distrair no Shabat enquanto se observa as “Halachots”: jogar bola, fazer ginástica, nadar e caminhar nos parques e calçadões.

Muita atividades “menos físicas” são permitidas, como por ex., ter uma refeição mais longa com a família e/ou amigos, com cantigas religiosas ou não, conversar, visitar amigos e/ou parentes, estudar, participar de jogos mentais, como jogo de damas ou xadrez , e leituras.

10. Fim do Shabat – Devemos observar a conclusão do Shabat com a cerimônia breve de Havdalah, realizada após o início da noite. A parte litúrgica referente ao Shabat, encontram-se nos comentários de Maariv/Arvit de Sextas-feiras e Sábados, Shacharit e Minchá. [2]

III. Shabat, Criptojudaísmo e a cultura nordestina – … As marcas da passagem desta “segunda leva ou introdução” da cultura judaica na raiz do povo brasileiro deixou ainda mais presente a figura do criptojudaísmo, que passou a ser ainda mais praticado, após a expulsão dos holandeses (1654) e as duas primeiras visitas do Tribunal do Santo ofício no Brasil, no final do século XVII, de três visitações à colônia brasileira, nomeadamente na Capitania da Bahia, na Capitania de Pernambuco e no Estado do Maranhão e Grão-Pará. Esta última, classificada como extemporânea pelos historiadores, ocorreu já ao final do século XVIII, momento em que a instituição já se encontrava enfraquecida.

O criptojudaísmo no Brasil se confunde com muito da tradição nordestina, principalmente nos estados onde marcadamente as famílias de cristãos novos se instalaram, seja no período inicial da colônia ou nos períodos de dominação holandesa. Os costumes ficaram enraizados e ocultos que somente estão sendo desvendados com pesquisas específicas, a nível universitário, reacendendo as chamas antes apagadas pela inquisição católica no Brasil.

O recolhimento das famílias dentro de casa em dia de sexta feira, onde toda roupa do corpo ou das camas são trocados e a casa é limpa até as 12:00 do dia, também faz parte das tradições judaicas preparativas ao Cabalat Shabat (preparação para o Shabat, ou Sábado sagrado). As orações em famílias, tendo duas velas virgens, sendo acesas apenas por mulheres, de preferência pela matriarca da casa, na mesa da casa, também é uma tradição de preparação do shabat, e em muitas regiões da Paraíba, e do interior do nordeste, é colocado mel cobrindo a base da vela, no amparo onde ela é colocada. Uma brincadeira antiga e que, provavelmente, se mantém no interior do Nordeste é de dar uma moeda para os netos ou crianças da casa para que estas busquem a primeira estrela da noite de sexta feira e contem para o patriarca da casa, sendo esta uma forma antiga de se marcar a hora em que as orações do Cabalat Shabat devem começar. … [3]

Fontes: [1] Chabad: http://judaismohumanista.ning.com/forum/topics/como-guardar-o-shabat
[2] CJB: http://www.cjb.org.br/tiferet/culto/tradicoes/33_SHABAT%20REGRAS%20GERAIS.pdf
[3] https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Criptojudaísmo
Coordenador: Saul S. Gefter, Diretor Executivo 01 de Av de 5778 – 13 de julho de 2018

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